quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Sobre o sofrimento e a confusão

Havia cinco anos, quase, que pertencíamos ao desejo um do outro. Mais do que isso, habitávamos nossas mentes e consumíamos nossos corpos.
Eu construía uma casa para nós.
E você ateava fogo nela, se esfriava e eu, somente só, podia perceber que tudo queimava e tu gelava, quando nada mais podia fazer, a não ser colocar-me casa afora e assisti-la ruir.
Não podia assisti-lo, porém.
Quando esfriava o fogo que alimentava a sustentação de nossa morada, era para erguer seu forte gelado com outros calores, outras temperaturas. Erguia aos cubos de gelo teu frágil castelo, e me dizia: afasta-te, pois teu fogo destruirá meu novo castelo de gelo. Obrigava-me a passar, como rajada.
Se sou fogo, és outono. Sempre chacoalhando folhas, secando árvores (corpos), soprando forte, acometendo a tudo, indiscriminada e discretamente. O outono, no entanto, é apenas abertura. Uma hora há de acabar. Não tem mais o que secar. E torna a esquentar. O degelo chega.
Quando teus castelos fatal e impreterivelmente ruíam, você buscava o calor novamente. Como que uma figurinha passiva, uma folha que só pode cair, no outono. Te acolhi, tantas vezes, chamuscando em ilusão. Construí novas moradas uma, duas, três vezes.
Como uma criança em loja de brinquedos, você quis tudo. É uma pena que quem não se compromete com nada, também não tem nada.
Doeu sentir o frio dentro dos meus ossos. Dar aqueles três passos para fora daquele casebre que se tornara nós. Com os pés na lama ao redor dele. Afundando e querendo retornar.
Olhei para trás e já não havia mais porta para entrar. É claro, você nunca quis cuidar da nossa casa. O outono vira inverno, sem aquele familiar calorzinho. Sem o mormaço marrom.
Sabe quando você encara a chama ardendo e pode enxergar formas e figuras se criando e morrendo rapidamente, naqueles movimentos?
A gente era aquela ilusão. Passageira e recorrente. Doeu tentar agarrá-la. E eu chamei de amor. Quando parei, confundi tudo, e não-dor foi (pareceu) tortura. Nunca mais arder tentando agarrá-lo e perdê-lo (nunca tê-lo).
A casa ruída e tu ausente. Impossível. A real é que não estava lá. O outono é ilusão para o calor. Adeus, confusão.

(dos estágios do luto, estou na fúria)

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