sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Sozinho?

Gente, por quê? Me digam, por quê quem fala sozinho, quase nunca está de fato, falando sozinho??

Faço essa pergunta em tom inconformado porque, de uns tempos pra cá - e eu poderia dissertar sobre as várias teses que se focam nos possíveis motivos disso ter vindo a acontecer, porém não vou - minha mãe tem cultivado essa mania desprezível, em qualquer lugar, hora e sobre qualquer assunto...
Não condeno os que fazem; Graças à algo que eu ainda não sei o que é, eu tenho amigos, internet, celular, word, word pad, cachorro, locutor e radialista, Sonia Abraão e todos os outros programas de platéia voltados às coisas mais banais possíveis, que poderiam e podem ser alvos de direção das minhas falas, sem que eu precise sair narrando os acontecimentos presentes e/ou dissertando sobre as diversas coisas que acercam os mesmos, sozinha.

O mais engraçado mesmo, é ver as alterações de humor ocasionadas - ou não - por essa ação estranha, que é falar sozinho: Geralmente começa com um resmungo, que digievolui para uma pergunta retórica com tom de indignação, aparentemente direcionada a qualquer um que (não dificilmente) já possa estar ouvindo o som da voz de quem pergunta, porém, apenas aparentemente.
Nunca, eu repito, NUNCA responda à uma pergunta retórica com tom de indignção que sucede um resmungo pouco compreensível! Neste momento, você corre sérios riscos de se tornar o alvo e motivo dos próximos resmungos não mais direcionados a si mesmo, da pessoa que fala sozinha.
Passada a fase da pergunta retórica e o silêncio vindo das pessoas que estão num raio de 100m da pessoa que fala sozinha, essa passa pelo estágio ascendente de stress e irritação que, quando atinge seu apogeu, torna muito difícil para o figurante presente no raio de 100m do interlocutor/narrador com prováveis distúrbios emocionais e de personalidade, permanecer em silêncio e não tentar ajudar.
Outro conselho valioso que eu posso dar: NÃO TENTE AJUDAR. A pessoa que chegou ao ponto de falar sozinha irritada e irritantemente não está na melhor condição de ser e aceitar ser ajudada por nós, meros mortais.
Bom, passada essa fase, o indivíduo já está lançando olhares assassinos possivelmente arduamente treinados pelos mestres jedi da Força e revirando/derrubando/quebrando tudo que impossibilite a resolução do problema que ocasionou esse acontecimento já descrito - a dissertação/narração irritada e irritante voltada a si mesmo por uma pessoa. Daí em diante, você, que já não consegue mais dormir, ou falar ao telefone com seu amigo ou namorado ou avó ou operadora de telemarketing, brincar com o cachorro, ou mesmo ficar filosofando sobre a vida em profundo estado zen de abstração e concentração em busca de alcançar o plano máximo de Nirvana, já deve estar sabendo o que é que está acontecendo e, rapidamente pensado sobre  a solução mais rápida, fácil e sem sujeira para isso, pois, a propabilidade da pessoa que está falando sozinha, quebrando tudo e gritando "com si mesma" já estar lembrando de que existem outras pessoas que habitam o maldito planeta que não deixa com que as coisas dêem certo para ela e, muito provavelmente, está começando a pensar que o problema pode ser ela e que você, mero coadjuvante desta grande cena de produção milionária e roteiro pouco duvidoso, pode ser o salvador da pátria.

O que eu mais odeio dessas situações, é que você, que não teve tempo ou oportunidade de sair correndo para a colinas, 1) Vai ser abordado para resolver o problema que tanto aflige o ser; 2) Vai ouvir o pedido no  tom de que é sua obrigação ajudá-lo; 3) Vai ter de saber resolver o problema dessa pessoa, ou então, 3) Se tornará, para essa pessoa, o culpado de toda a sua irritação, será o alvo para o qual essa pessoa direcionará as novas perguntas retóricas, gritos, resmungos e demonstrações explíticas de violência física, psicológica e moral, e terá seu dia arruinado pela depressão, tristeza, dor ou irritação resultante desse quase bullying familiar.

Finalizo aqui, então, com a mesma pergunta feita no início: Por que, diabos, alguém fala sozinho, se obviamente, não escolhe sua altura de som da voz para que só ele próprio possa ouvir? Por que externaliza a fala, se ela pode ser ouvida internamente, sem precisar utilizar das cordas vocais? Por que esse alguém se irrita se outro tenta ajudá-lo quando percebe o (e é incomodado pelo) conflito, e mais, por quê, por quê, por quêêêêêê ele faz perguntas em alto e bom tom, se são puramente retóricas e direcionadas a NINGUÉÉÉM??

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