quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Rosa (Vermelho)

Um dos meus textos favoritos..
Não é o melhor escrito, nem o mais sucinto. Mas é um dos mais significativos.

O nome era Vermelho, mas agora que reli, me pareceu muito melhor Rosa.

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Era feliz onde morava.
Nascera do broto de uma margarida. Assim como todos de lá.

A margarida, tão bela e singela. Tinha toda sua felicidade alí.
Ela era a vida. E a vida era ela.

Não tinha pai nem mãe. Não sentia falta. Nunca soube o que era.
A vida lhe era simples e complicada ao mesmo tempo, como aqui. Mas como se fosse a mais perfeita criatura, tinha todo o tempo para dedicar à essa tão contraditória vida.
Não precisava gastá-la sentindo-se ora feliz ora triste. Ora amado ora abandonado.
Não, não tinha tempo para isso. Na verdade, não sabia como sentir-se assim.
Cultivava sua bela margarida num jardinzinho simples, humilde. Mas ela não pedia mais do que isso.
Viver.
Era só o que ele devia à ela. Sua vida.

Certa vez dormiu ao seu lado. Ela era branca. E foi assim que sonhou. Branco, vazio.
Acabou por se encontrar num lugar esquisito, cheio de gente diferente, que anseiava pela aceitação e companhia de outras mais criaturas esquisitas.
E as margaridas. Oh, pobres margaridas!
Eles as mastigavam com aqueles pés sujos e sem cor, arrancavam-lhes suas pétalas, arrancavam-lhes a vida.
Não sabia o que sentir. Nunca havia sentido na vida.
Mas achava que deveria sentir algo. Não deveria apenas pensar.
Estava errado. Algo estava errado.

Voltou ao branco.
Não sabia mais o que era a vida. Suas vidas eram despedaçadas lá naquele lugar. E ninguém se importava!
Que deveria ser mais importante do que aquelas endeusadas margaridinhas?
Caminhou.
Correu, pensou.
Nada. Nada havia, nada sentia, nada existia.
Ele. Que era ele?
Branco. Vazio. Como sua margarida.
Sem vida, como as margaridas daquele lugar sinistro.
Sentiu-se seco.
Esvaindo-se dele mesmo. Onde estava sua margarida?
Oh! Ficara tempo demais longe. Sua margarida estava se amargurando.
Sua vida, sua pobre, frágil e branca vida estava morrendo e nada ele podia fazer para tornar a alegrá-la.
Estava preso naquele branco. Branco ele era.
Nada podia fazer.
Nada podia ser.
Que fizeram aquelas terríveis criaturas?
Tiraram sua vida.
Tiraram-lhe o único sentimento que jamais aprendera a ter. A compaixão.
Porque não tinham a compaixão?
Quem era aquela gente?

Uma lágrima escorrera.
Sentira.
Sentira aquela fria, cortante, furiosa lágrima.
Uma pétala de sua branca vida caíra.
Morrera. Não mais branco e vazio.
Morrera vermelho. Vermelho raivoso.
Vermelho perigoso.
Vermelho rosa.

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