domingo, 9 de dezembro de 2012

O conto que nunca será


Uma lágrima escorre pelas maçãs lisas do rosto dele.
Dois dias! Dois dias e parece que eles conheciam um ao outro como (des)conhecem a si mesmos. Ela passa o polegar esquerdo em cima da lágrima. Quer aniquilá-la.
Mas logo em seguida vem outra e outra e então as pontas de seus dedos estão todas também encharcadas, e as lágrimas não páram de rolar abaixo e pingar na clavícula, no peitoral magro pouco sedutor. Ela força as pálpebras umas contra as outras, na tentativa de manter-se acordada. Ele fala em tom de sussuro tudo aquilo que ela já sabe, mas não tem resposta para. Eles precisavam exatamente um do outro, daquele exato jeito em que se encontravam, naquelas exatas formas que criaram juntos. Ela achou tudo tão mágico e humano ao mesmo tempo, que nem essa clara contradição pôde extinguir o que aconteceu. Não pôde eliminá-la. Um e outro sorriso preenche a sala.
"Posso deitar no seu colo?" Ele passa a mão por entre os cabelos cacheados e observa a parede branca para a qual estrategicamente aponta o sofá de dois lugares. Ontem, hoje e amanhã; Agora e outros tempos se misturam, convivem juntos em histórias narradas, em momentos de se perder no passado, de projetar futuros que os satisfaz.

Uma bolha utópica os rodeava. Uma história que não poderia ser nada além do que foi. Se permanecer, não será mais a mesma, se explodir, frágil composição que tem, deixa aquele gosto de quero mais. Até onde poderia ser mais? Ela dorme, enquanto ele olha pela janela, deita-se ao lado, bebe um café. Ele transita, está aqui e ali. Mais ali, agora. "Eu não queria que fosse assim, sabe?". Volta pra cá. Trocam olhares de cumplicidade. Ela esfrega os olhos com uma mão, afugentando os sonhos que se misturavam com a sala-de-estar. Deixa pingar o que pertence à sua imaginação. A outra mão não parou o ir e vir carinhoso, desesperado para acalentar, menos eficaz do que ambos gostariam.
Se abraçam quando no ponto de ônibus. Trocam sinceros "Você é lindo(a)" e "Não perca isso nunca!". Agradecem, como se não fosse para ser assim sempre. Como se as relações não devessem ser ricas, completas, sensíveis, íntegras assim.
Nunca mais.

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