domingo, 9 de dezembro de 2012

Manifesto por humanos mais humanos

E então perdemos o tudo que nos pertence. Não. Não perdemos; Fomos expropriados, afanados, assaltados à mãos armadas. E nossas mãos mãos estavam vazias. Vazias de escudos, só tínhamos a inocência.
E hoje não temos nada. Só amargura, um vazio.

Dê a um homem o som e ele não saberá o que fazer com ele. Nós já não sabemos mais fazer música através da nossa alma. Não sabemos usar os dedos para dar tons de sentimentos. Observamos admirados os que ainda têm n'alma salpicadas de arte e têm na sua arte, salpicadas de suas almas. Observamos e, talvez, com sorte, nos re-humanizamos um pouco mais. Nos reapropriando do que essencialmente nos pertence.

Dos que não conseguem encontrar em si mesmos a sensação que é uma lágrima que não se explica, um farfalhar quase atômico no estômago quando se permite ser invadido pelas ondas enérgicas de alguma composição que não entendemos racionalmente, lamento. Lamento todas as vezes que vejo um funcionário do metrô que expulsa o violinista efervescente, toda vez que um engravatado parado no horário de pico na Av. Brasil troca estação de rádio de música clássica pelas notícias do trânsito. Quando alguém prefere qualquer mais-do-mesmo, superfluo e pouco dimensional, à complexidade que se pode ter e ser.
Quando a gente troca o rico pelo superficial. E não percebemos. Não percebemos que a mão que risca genialmente o papel só assim o faz porque aquele a qual ela pertence (re)encontrou em si mesmo o que tivemos todos por muito tempo. Aquilo que fez os homens se reunirem e dançarem em torno de um tronco oco de madeira que emitia ilimitadas notas e ritmos quando tocado, que nos fez olhar com mais atenção à uma parede aparentemente desintencionalmente rabiscada.

Conclamo a reaproximação dos sentimentos. Das mais variadas formas de expressão. Da aniquilação do medo do fracasso. Exijo que toda arte seja produzida e acessada em e por toda a humanidade.
Que todos os seres humanos retomes o que é condição de sua humanidade. Que voltemos a ser ricos de expressões e sensações, e possamos tanto chorar e sorrir e abraçar, quanto queremos comer.

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