segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Immolo


Lembra-se daquelas coisas que eu te dei? Estão todas aí com você, ou você deixou-as jogadas naquele canto onde você guardava aquelas outras coisas das quais você me disse que queria se livrar? É, eu lembro daquele canto. Aquele onde você disse que eu nunca estaria. Aquele lugar amargo que te dá náuseas. Eu lembro. Você me disse que ali não era lugar onde eu deveria passar por. Você escondeu ele de mim. Disse que não é lugar pra moça como eu.
Você precisa se lembrar. Você achou doce onde era ácido, azedo. Achou açúcar onde tinha limão. Tirou o limão, trouxe as balas e os sorrisos. Caramelizou e agora tá cheio de formigas. Tá cheio de inseto e parasita consumindo. Você adoçou demais e agora nem você aguenta. Quê que eu faço com isso agora?! Agora que eu to ali no canto amargo, com todo esse doce me enjoando?
Eu tô enjoada! Com vascas de sentir o gosto de mim mesmo, da gente, e você escondeu tudo isso, e agora se sente bem consigo mesmo.

Lembra-se daquelas coisas todas? Aquelas que você quis emoldurar e deixar perfeito pendurado na parede de destaque que você tem aí? Acho que não estão mais lá, você nem foi checar, né? Deixou elas caírem e nem viu que se quebraram e se transformaram, e você deixou elas irem sendo jogadas pr'aquele maldito canto onde você adora esconder o que não te convém mais.
Me faz um último favor? Jogue-as fora. Joga tudo no lixo, leva embora com o resto de comida da tua cozinha, e as bitucas de cigarro que fumamos, e as cápsulas que cheiramos, e as cinzas que restaram do que fumamos. Ou dá descarga. Junto com a merda toda que fizemos. Junto com o gorfo da nossa ânsia de nós dois. Dá um jeito. Ali no canto amargo não tá dando. Você sabe que minha azia não me permite o amargo.
Lembra-se do gosto doce de tudo que eu te dei? Era mentira. Era limão novo com um monte de açúcar que a gente botou pra ficar mais agradável ao seu paladar. Era eu que a gente colocou um monte de coisa por cima e tapou e encobriu muito bem, mas não deixou de ser limão. A doçura toda tá cheia de bicho comendo-a e a gente já pode ver o que ficou por baixo escondido.
Você não gosta de limão, e eu não aguento mais carregar tudo isso com o qual a gente adoçou-me, adoçou-nos.
Lembra daquelas coisas que eu te dei? Deixa azedar longe de você de volta, por favor? Deixa eu pegar de volta daquele canto teu.
Prometo cuidar melhor do que a gente tava cuidando. Eu ainda lembro como faz. Você só precisa me jogar fora.

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