sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Cartas Lânguidas VII

VII. FÓÓÓN, "Parabéns! Viva! Viva você!" FÓÓÓN!
Essa sou eu, assoprando num tipo de corneta amarelo e verde, largada ali pelas torcidas nos malditos jogos da Copa.
É a primeira vez que eu encosto a boca nessa buzina infernal, e é para infernizá-la. Agora já não me é certo a razão primordial de meu ataque infantóide; se foi depois que ela me disse que o chip de celular q usávamos pertence a ela graças à sua capacidade de ser folgada, como eu apontara minutos antes, ou se em detrimento do ataque frontal direto que me desferiu, à sua vez, dizendo-me que o que ela havia conseguido não era fruto do "dinheiro de papai e mamãe", como seria comigo.

Peraí. É isso mesmo. Agora gritamos e nos atacamos com base num negocinho dessa magnitude. Um chip, ou um maço de cigarros. Ou meu ego.
Definitivamente, é o meu ego que disputo. O seu, em compensação deve ser aniquilado, para isso.
É, estamos na lei da selva. Já não predomina mais a razão. A razão fugiu assim que teve oportunidade. Acho que levou consigo a minha maturidade, a minha pequenina.
Na lei da selva as coisas são assim, mesmo, não é minha culpa! - me justifico. Forças oponentes não coexistem, cara. Isso é coisa do corpo social. E nós não estamos mais entre regras e contratos sociais. Isso aqui é a selva! Saiam fora os burocratas e seu consenso de meu caminho, eu já rasguei tudo isso sobre nós duas e agora cai uma chuva intolerante de soluções vãs para bem-estar pelo cômodo tenso. Agora é matar ou morrer, e eu acho que já disse como me sinto acerca de ser destruída.
Os leões, veja só, além de transar por dois dias seguidos, brigam entre unhas, dentes e rugidos quando entre impasses. As unhas e os dentes, porém, apesar de ambas querermos muito usar, estão há tanto tempo em desuso, lixadas e polidas, que seria um tiro no pé para ambas usarem, eu acho. E convenhamos, uma morta e uma manca se atracando no chão seria uma cena deveras tragicômica para os efeitos que queremos.
Os rugidos vão muito bem, obrigada, como é impossível não ouvir.
Sabe, antes a gente transasse, eu penso agora. Eu parasse de bater boca e me desse uma função mais útil a essa minha grande boca. E ao invés deste cheiro de podridão que sobre nós agora paira, um outro, ácido, etério. E essa fadiga, outra muito menos cansativa...

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