sábado, 2 de abril de 2011

Carta aberta ao povo brasileiro​

Em defesa do SUS, estudantes de medicina em Cuba realizam 2º Encontro Nacional dos Estudantes Brasileiro​s de Medicina em Cuba.
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Nos dias 25, 26 e 27, foi realizado 2º Encontro Nacional dos Estudantes Brasileiros de Medicina em Cuba, no Acampamento Internacional “Julio Antonio Mella” (Cijam), no Município Caimito, Província Artemisa. O evento contou com a participação de 130 delegados eleitos entre os quase 600 estudantes brasileiros. Com o objetivo de debater assuntos internos da organização, a solidariedade a Cuba e a inserção dos egressos da Escola Latino-Americana de Medicina (Elam), de Havana, ao Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil.

A abertura do evento contou com a presença do reitor da Elam, doutor Juan Carrizo Estevez; do primeiro-secretário da Embaixada do Brasil em Cuba, Túlio Amaral Kafuri; do professor doutor Marco Aurélio da Ros (UFSC); da professora Maria Auxiliadora Cesar, coordenadora do Núcleo de Estudos Cubanos da UnB; do presidente da Organização Continental Latino-Americana e Caribenha de Estudantes (Oclae), Yeovani Chachaval; dos diretores de Atenção ao Brasil e Atenção a Estudantes Estrangeiros do Instituto Cubano de Amizade com os Povos (Icap), Fabio Simeón e Bárbara Diaz; e da representação do Cijam.

Na abertura, os estudantes apresentaram uma Moção de Solidariedade a Cuba, exigindo a libertação imediata de Ramón, Gerardo, René, Fernando e Antônio, os Cinco lutadores antiterroristas cubanos presos nos EUA, o fim do bloqueio a Cuba, o fechamento da Base de Guantânamo e que cessem as agressões imperialistas a Líbia.

No sábado, dia 26, o professor doutor Marco Aurélio da Ros participou de um frutífero encontro com os estudantes, no qual se debateu o tema “Reforma Sanitária no Brasil, passado, presente e perspectivas”. Os trabalhos seguiram pela tarde em grupos temáticos sobre: solidariedade a Cuba, reforma sanitária, extensão universitária (o papel das Brigadas Estudantis de Saúde), a inserção na Associação Médica Nacional Maria Fachini e a revalidação dos diplomas no Brasil.

No domingo, dia 27, os estudantes debateram com a professora Maria Auxiliadora (Nescuba) e com o companheiro Fabio do Icap a história do movimento de solidariedade a Cuba no Brasil.

Os trabalhos se encerraram com a aprovação do novo estatuto da Associação dos Brasileiros Estudantes de Medicina em Cuba (Abemec) e com a aprovação de uma “Carta aberta ao povo brasileiro”.

Carta aberta ao povo brasileiro

Em 1998, quando os furacões George e Mitch provocaram grandes destruições na América Central, suplantando a capacidade de resposta civil e governamental aos desastres naturais, o governo cubano decidiu fundar uma escola internacional para a formação de médicos, 100% pública, 100% gratuita, aos jovens dos países periféricos, com o objetivo de atender aos excluídos dos sistemas de saúde precarizados e privatizados. Um ano depois se cria a Escola Latino-Americana de Medicina (ELAM).

A partir da próxima graduação seremos mais de 10 mil médicos, oriundos de 116 países de Ásia, África, Oceania e América, formados por esse projeto. Até o momento os médicos formados pela Elam estão participando de importantes projetos sociais em inúmeros países das Américas.

No Haiti existe uma cooperação tripartite entre os governos de Cuba-Brasil-Haiti, onde mais de 680 médicos formados em Cuba, trabalham atendendo gratuitamente ao povo haitiano, atingido pelo terremoto mais forte conhecido pela história contemporânea do continente e que agora sofre uma importante epidemia de cólera.

No Equador, jovens formados em Cuba participam de uma missão governamental chamada “Manuela Espejo”, estão fazendo o levantamento em todos os rincões desse país das pessoas com deficiência física e mental, levando assistência médica integral a todo o interior equatoriano.

Na Venezuela, jovens formados pela Elam participam de um projeto governamental chamado “Batalhão 51”, em homenagem aos primeiros 51 venezuelanos formados pela Elam, que atende a populações ao longo da Amazônia venezuelana e outras regiões afastadas desse país.

Poderíamos citar exemplos do trabalho dos médicos latinos formados em Cuba, na Nicarágua, México, Honduras, Guatemala, Peru, Bolívia e em muitos outros países das Américas.

E no Brasil, país mais rico da América Latina, que possui mais de 568 municípios sem nenhum médico e mais de 1.500 sem médico fixo, onde crianças morrem por enfermidades infecciosas, desidratação e outras enfermidades previníveis, facilmente tratáveis se atendidas prontamente, no qual a mortalidade infantil está em torno de 20 por mil nascidos vivos, sendo que no nordeste, por exemplo, chega a 34,4 por mil nascidos vivos, muito diferente de Cuba com 4,5 por mil. Além disso, são milhares os pacientes da terceira idade, portadores de doenças crônicas não transmissíveis, como a Hipertensão Arterial e a Diabetes, sem atenção médica devida. A inserção dos estudantes formados em Cuba e em outros países no Brasil tem sido dificultada por barreiras corporativas de setores reacionários e mentirosos, que até hoje não assumiram a responsabilidade de levar o direito à saúde a todo o povo brasileiro.

A medicina no Brasil hoje é controlada pelo complexo médico-industrial: “empresários da saúde”, corporações farmacêuticas e de tecnologia médica que influenciam a formação médica, de forma que nossos médicos são educados a interpretar “exames complementares”, sem tocar nem olhar o paciente, sem entrevistá-lo, nem menos dedicar-lhe atenção psicosocial. A medicina brasileira está mercantilizada e desumanizada.

Nós, estudantes da Escola Latino-Americana de Medicina, vimos a público colocar-nos à disposição da sociedade e dos poderes públicos de todos os níveis da federação para a realização de um Plano Integral de Inserção ao Sistema Único de Saúde (SUS), que permita a inserção de médicos formados no Brasil e no exterior, dispostos a levar o acesso à saúde e qualidade de vida às famílias hoje excluídas da assistência médica.

O Sistema Único de Saúde é a bandeira mais ousada que o movimento popular brasileiro construiu com muita luta e articulação no século passado. Desde a sua aprovação na constituição cidadã e da incompleta regulamentação posterior, tem sofrido ataques constantes que ameaçam destruir e descaracterizar o maior sistema de cobertura médica do mundo. Por conta do reconhecimento das patentes internacionais sobre os medicamentos, a demora para aprovação da Emenda Constitucional 29, a derrubada da CPMF, a legalização das fundações e a entrega do serviço de saúde às operadoras de serviço, o SUS necessita cada vez más ser defendido e tornar-se uma realidade.

O Brasil, que possuí um desenho formal do sistema de saúde mais completo que outros países da região, gasta menos per capita que países vizinhos como Argentina e Chile.

Nós, estudantes de medicina da Escola Latino-Americana de Medicina, reunidos em nosso 2º Encontro Nacional em Cuba, vimos a público manifestar nosso compromisso de tornar o Sistema Único de Saúde uma realidade para o povo brasileiro. Convidamos a sociedade para juntar-se a nós na defesa de um SUS verdadeiramente para todos.


27 de março de 2011.
Caimito, Província Artemisa, Cuba.

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