sábado, 12 de abril de 2014

Perseguido

Em Recife, um poeta observava um gato com seu jeito social-animalesco. O artista encantara-se e escancarava-se. Atacava-lhe por todos os lados, e a presa felina só podia sentir-se acometida. Por sorte, o poema é uma arma não-letal, e seus efeitos colaterais não passaram de um pouco de auto-amor, admiração e até admiração invejosa.

Este poema me encanta pelo criador e pelo muso.


Crônicas do Meu Gatinho Guido
Não que seja meu ou que tivesse sido a posse a mim não coube, do tal gatinho Guido! Pois como narrador tenho outro perseguido achar interessante o que passou despercebido.
Outrora louvável os de mente fresca desocupado e preenchido de ócio era de mim alvo de olhares indiscretos. Sentado assim, cruzando na relva a sua camisa florida de natureza artificial e perene com a efemeridade das papoulas já roxas a vomitarem seu caule.
Paquerei à sombra do tempo a tarde que se derramava com as folhas no chão. E morto era o segundo que suspirava cada vez mais lento. Amorteciam as horas que às cegas tateavam os ponteiros do relógio.
Não despencavam. Continuei a espiar o moço.
Perto do monte de folhas empilhadas à exaustão, descansava Guido. Que era do tamanho de um punho cerrado. Confundia-se com a paisagem preguiçosa. De quando em vez, arrancados do monturo eram, barulhos do retesar de músculos do gatinho fotossintetizando a tarde em notas verdes de miado. Era das carnes, inimigo. Não comprometia-se no canibalismo, foi fiel aos seus preceitos.
Lambia as partes íntimas e num contorno côncavo sem deixar de ser redundante, reverenciava Picasso em mordiscadas no pelo Cubista. Num baque seco e oco contra o chão de terra batida levou a cabeça ao arrebalde e na presença desconhecida da selva masculina, estuprou as formalidades adentrou no jardim artificial, devotando ao moço um cumprimento sincero.
O moço, de duro osso ruim de roer não evitou o carinho-esboço e com as mãos no bolso pois-se orgulho-ceder, de animais não se aproximava, tinha o coração estreito e gelado. Vendo a armadura ruir, caiu de amores pelo bichano.
O Guido seguido de Bansky era arroto perpetuado e vazio era tela de pungente aquarela recheados de significados mil. Não tinha preocupação e estirava-se sem jeito no contra-feito da natureza opulenta regando de secura as folhas mortas numa costura de conta a conta de orvalho.
Que absurdo, não tê-lo notado antes! Se desligasse o ouvido e longe da culpa de colegiado ter até ficado, mas reparei não obstante o minuto ganho na eternidade. Era um gato magro de semblante esguio não me importava nada mais de nojento e torpe A refinaria; O imposto; e os políticos de estimação antes um gato magro e gaiato que um corrupto ladrão. De longe não perdi a tarde, nem a mim nem ao moço que com o carinho insosso descobriu os segundos de satisfação. Eu de longe admirando, notas sobre o nada fui depositando enquanto a sociedade muda sem a minha presença. Resolvi narrar o que passou despercebido, eram brincos na sobrancelha de Guido que fazia-o destoar da aprovação do senso crítico. Bem aventurados os que escutam o nada, neles estão a simplicidade muda cheia de coisa pra falar.
(graciosamente, G, para G. G.)

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