terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Pensamento(s)

Era um dia como qualquer outro quando o vazio e o silêncio paravam em frente à porta dela... Ela sentiu; não precisou olhar.
E o que ela poderia fazer?
Ouviu o silêncio batendo, e sabia que estava parado, ali ao lado dele, o vazio. Em frente à sua porta; E não iam embora.

Estava tudo bem até então... Mas agora mudaria. Agora ela tinha a companhia de mais dois indesejados.
Ela os deixou entrar, sabendo que, se não quisesse mais, era ela quem teria de ir embora.
Largar o silêncio e o vazio.

Uma vez dentro de|lá, eles consumiriam tudo.
Talvez fosse bom... Mandar a prisão e o medo embora, para fora do vazio. E então ela aproveitou suas duas indesejadas companhias:
A porta não mais soou. A campainha definhou.
A geladeira não saciava mais a fome, pois agora não tinha mais fome; tinha o silêncio e o vazio, e eles também a consumiram.
O silêncio calou o taco que rangia, a porta que cantava e o bocejo que vinha pela manhã.
Mas tudo bem, pois o vazio tomou também as manhãs e recolheu as horas.

Quando ela já não agüentava mais, pois a esperança havia fugido, de mãos dadas com o desespero, na calada da noite, sem nem ao menos escrever um Tchau com batom no espelho do banheiro, ela abriu os olhos. E, rodeada por esses dois indesejados, olhou além do vazio sem horas, nem canto, nem amanhã, e viu...
Escondidos, negligenciados num canto empoeirado. D'uma época muito anterior à do vazio e silêncio. Resolveu experimentá-los.
Afinal, foram os únicos que restaram!
Ela gostou... E se deixou ser levada, agora, por eles. E de repente já não precisava mais daquela esperança ingrata, nem da fome, nem do medo ou do vazio.

Deixou a casa, consumida por aqueles dois que, sem desejo, ela um dia havia deixado entrar.
Sentiu de novo sua voz. Sem precisar falar.
Ouviu os pássaros. Sentiu os dedos formigarem, e então, tocou.

Agora ela era deles e eles eram dela.
Não precisava de mais nada, nem ninguém...
Ninguém...

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