quinta-feira, 21 de novembro de 2013

O desconforto e os três monstrinhos



Geralmente começa com a detecção do desajustamento dos braços e das mãos que perderam sua normal. Eles podem ser dispostos no colo do objeto aqui percebido, no encosto da cadeira onde ele se encontra ou segurando um cigarro que foi aceso na tentativa de dar novo sentido ao que se tornara completamente e absurdamente estranho, de repente. O cigarro, por sua vez quando acaba não pode ser substituído por um novo, dado que agora a garganta se tornara seca em detrimento de tragadas intensamente carregadas do desespero do corpo desajustado procurando ser sanado do tal objeto referido. A fala, agora acometida pela secura da garganta, começa a ter sua necessidade repensada e a espontaneidade que já ameaçada agora por completo já se fora. Todo o fluxo de movimento e existência está totalmente permeado pelo raciocínio paranoide insustentavelmente dominador.


Quando novamente se apercebe, tendo retornado do estado hipnótico resultado do devaneio a respeito do desconforto, os dedos percorrem os fios de cabelo perturbadamente. Neuróticos, eles se concentram na tarefa de encontrar os fios que se apresentam também desajustados, numa necessidade de aniquilação para um suposto conforto e retorno a alguma normalidade que tanto não justifica o ato quanto não é passível de ser alcançada, nem desta forma nem com nenhuma outra estratégia que o mesmo pode encontrar.

A frustração, agora acometendo quase que completamente todo o fio do raciocínio consciente ou simbolizado, dada todas as ocorrências citadas, se direciona a novos condutores, afim sempre de se manter, na ilusão de ser esvaída através de um ou outro comportamento corretivo e torna-se uma entidade maior do que somente parte do objeto. Mistificada, agora de uma potência antes inimaginável e, se antes incontrolável no corpo do observado, já não mais poderia ser suprimida ou aliviada. Torna-se ela um milhão de pequeninas formigas que percorrem e aferroam-lhe num delírio nunca comprovável, não importando o esforço dos olhos de detectá-las (desmistificá-las) ou do raciocínio de espantá-las. A sensação do comportamento execrável pelos que ao seu redor ou encontram-se em relação com o objeto em intensa efervescência neurótica soma-se à conta maligna, transmutando os insetos terrenos em tantos outros já nem mais identificáveis, tão estranhos e rápidos que aparecem, transitam e desaparecem da superfície do corpo. Como numa linha pouco nítida que divide o mundo caótico e monstruoso se agigantando interno e o mundo sempre diferente e “inarmonizável”, os insetos estão ali para trazer à tona os monstros que habitam sem forma o mundo ideal do objeto observado, dificultando a capacidade do mesmo em distinguir o lúcido material dos monstros imensuráveis.

O que resta ao mundo além da loucura social conjugada?

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