domingo, 12 de agosto de 2012

De lá, de cá. Ontem e amanhã, em primeira pessoa



E eu achava que esse dia nunca chegaria. Esse primeiro passo de futuro distante. Um olhar preenchido de "porquê não?!"... O cigarro na borda do cinzeiro de metal e a vida-pouca sendo olhada por detrás de olhos começando a se cansar. Algumas ruguinhas ali nos cantos desses mesmos olhos, com cílios longos e jovens, de muitos-anos-que-virão.
Não é que me negava ver, mas não conseguia criar a imagem percebida em primeira pessoa. Como quando a gente sonha e se olha de fora. A gente pode criar o infinito, se olhar de fora, mas esquece de perceber o infinito dentro da gente, né? (Digo, talvez, foda-se) Se é condição humana ou não, lapso de uma noite entorpecida qualquer, no café-da-manhã de qualquer dia seguinte, ao primeiro gole pouco saudável de amargo preto.
E caralho! De repente o meu braço passado no entorno de um corpo que aquece, satisfaz. Uma mão pertencente a quem segura o tremor das minhas.
Não sei se estou falando de amor pra sempre, familia feliz, papai e mamãe com gérmen de vida longa. Nem quero qualificar dessa forma. Eu acho que estou falando mesmo é de espaço metafísico, de coisa que não é, ou não poderia  ser...
Sabe, eu acredito um pouco em timming. Em coisa de cada tempo, conflito e síntese, movimento, porquê não?! ( E olha só o tal "porquê não?!" aí! Claro, sem perder o medo da expectativa versus possibilidade. Mas talvez um "quem sabe...", que já é bem válido, eu acho)
Esses dias de perdição de mim mesma - não que eu tenha jamais "me encontrado", mas enfim... Quero dizer, ainda procuro certas satisfações que não perdi de vista, ainda estou fora de um caminho quem sabe muito lugar-comum; também não gostaria de me transformar (ou continuar sendo, sei lá) aqueles todo e qualquer um que sempre nego. Nada muito negável, não estou me negando, eu acho... Mas estou aí neste lugar: Olhando para o piso no ar, com um pé de apoio ainda alí atrás, "firme", e outro erguido, ensaiando o futuro seguinte, o outro firmar. O passo de trás nunca poderá ser dado novamente e, caralho! O passo de trás, aquele firme ali, no apoio, nunca poderá ser dado novamente!

E eu achava que esse dia nunca chegaria. Dei risada do olhar cúmplice entre pessoas do para-sempre, e me arrepiei quando imaginei-me, olhando de fora, com aquelas ruguinhas no canto do olho de muitos-anos-que-vieram.
Sem querer esgotar todos os meus clichês, procuro um ponto final...
O cigarro na borda do cinzeiro queimou-se sem minha boca. Seu timming e eu, no mesmo espaço, filhos da mesma mão que concebe e transforma, e ele, mesmo assim, sem minha boca para tragá-lo, sem meus olhos para olhá-lo, queimou-se. Deu um passo para frente que destruiu o trago (ou passo) que poderia tê-lo, também destruído, ou transformado.
Não o fez o cigarro e eu o faço: Estou ali naquele lugar de onde olho para o piso no ar, com um passo sendo ensaiado...

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