domingo, 17 de junho de 2012

Ensina-me

Ele tem cheiro de gente. Concluo para mim mesma enquanto minha cabeça recosta no osso que sobressái no seu ombro magro talvez tatuado. Ele me chamou para dançar após uma longa noite sem troca de olhares nem provocações. Quer dizer, não entre nós... Por segundos aqui e acolá vi-o olhar para uma e uma olhá-lo, abraçar-se com outra e conquistar mais uma por lá. Não importa. Toda vez é a mesma coisa: Seu charme me cansa. Me atrai e me repele, noites e noites. Todo aquele ar de sedução, com pitadas de olhares maliciosos e sabidos de seu poder. Humpf!
Então lembro-me da minha mão que se entrelaça à dele e aperto-a mais forte. Força com sutileza. Um pouco mais forte. Afrouxo assim que ele esboça desconforto. Se repete a saga pelo próximos minutos que duram a música. Penso que a música ao som da qual nos movíamos deveria ser os quatorze minutos da Ode ao silêncio, apenas para que eu pudesse ouvir se ele respira feito gente também. Encosto o máximo possível meu nariz no seu pescoço. Cheiro de gente. Não é cheiro de jasmim, de pós-barba, perfume. É cheiro de pele, com poros, com carne, com calor. Reprimo o osuspiro de desejo misturado com satisfação e prossigo prestando atenção a cada pequenez daquele contato inédito.
Então lembro-me de minha outra mão, que havia começado dispondo errado e dizendo: Eu não sei dançar nada! Ele me olha sorrindo com ar de mistério, nada novo, e rearranja-a para seu pescoço. A música nem começou, e estamos abraçados, encaixados, acalorados. Antes que me aninhasse ali, percebemos: Não há ritmo para guiar-nos, e estamos somente ali, provando um do outro no meio da pista...
Enquanto acertamos o passo, entre pisadas e deslizadas de pés e mãos, começa a letra e confesso que busquei que se encaixasse magicamente a nós e ao momento. Fiquei o mais próxima possível, apertei mãos e rosto e peito e pernas contra seu corpo, com medo de que acabasse logo sem que ficasse seu calor por mais alguns instantes. Passei a mão por suas costas, ombro, nuca e voltei a encaixá-la no vão do mesmo osso no qual recostava a cabeça. fechei os olhos e me deixei ser levada pelo êxtase.
E de repente, ele estava cantando ao meu ouvido, e parecia que tudo aqui tinha sido feito para nós. Ele cantava meu nome no lugar daquela outra que era chamada na música, e eu podia ouvir seu sorriso na voz, sem que saísse dali. Se eu pudesse parar o tempo, pararia para gritar aos quatro ventos que prestassem atenção no que ele estava a fazer comigo.
Dançamos pequeno. Dois-pra-lá, dois-pra-cá.
Quando tudo acabou, não quis mais. Fui embora querendo aquecer-me dele, mas não o fiz, fui só.
Foi tudo e nada. Foi uma dança. Foi uma intersecção única de corpos que se atraem.
Foi cheiro, toque, calor.
Foi muito e pouco. Suficiente.

Nenhum comentário: