sábado, 7 de abril de 2012

Carta breve.


Para os que possam querer notar, posiciono esta carta ao lado lado de meu mais companheiro atentado contra mim mesma, que falhou e satisfez, não necessariamente nesta ordem; um maço de cigarro. Sinto por faltar este primeiro. Se chegaram cedo, ele deve estar ainda fumando-se no cinzeiro logo ali ao meu lado. Se o cheiro putrefato de mim só chegou a notar-se, parceiro da minha ausência, somente após o momento em que estivesse intolerável, mais do que meu pedido de desculpas, devo dizer-lhes vergonha para vocês.
Não é como se não tivesse havido nenhum sinal da minha total incapacidade de lidar com tamanho poder que é controlar uma vida.
Tanto não sei, que ali estou; fedendo, ao chão, ao lado de uma carta patética sem conjunto, sem fim, a não ser tentar evitar que a morte tenha sido determinante para destacar minha ausência de hoje em diante, permanente.

Não se preocupem. Esta não é uma carta culpando a sociedade e seus vícios, pela minha morte. De fato, é esta a culpada por muitas coisas, dentre elas minha falta de perspectiva e solidez, mas seria egocêntrico ou narcísico demais dizer-lhe que estas são as motivações do que fiz com meu corpo que ali jaz, putrefo ou não, e que esta sociedade é a culpada. Longe de mim também tentar fazer uma análise de conjuntura da sociedade (pós?)-moderna numa suposta carta de abandono... Perdoem-me os que não esperavam, mas caberia rir-me um pouco neste momento, se eu estivesse a ler esta carta, ao passo que observo esta cena.
 Sempre gostei de humor negro. Vai saber. Gostaria (ou será que não) que, desconhecido ou não, pudesse apreciar a graça disto, isento de culpa ou normas de comportamento ou reações - Você está num quarto com um corpo sem vida, a ler o desabafo mais desordenada e estranho de sua vida. Este momento é primeiro e único! Reaja! Sinta! Viva! (o que eu não poderia estar fazendo aí, diga-se de passagem, então faça-o por mim).

De qualquer forma, minha intenção não era uma auto-ajuda. Também não era explicar-me. Se me soubesse, talvez não tivesse feito isto. Teria feito o que quer que me fizesse bem - apesar de que não sei se isto irá me fazer bem... Imagino que ao passo que você lê, eu estou descobrindo.
Legal, né?!

Pode se sentar ali ao lado. Não dá pra ver meu corpo diretamente, e tem um cinzeiro e um esqueiro na mesa à direita. Talvez você sinta vontade de fumar este maço bonito que espera um novo companheiro aqui... Se não fuma, permita-se sentir o sabor do meu último suspiro. Quantas vezes temos esta oportunidade?

(...)

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