domingo, 8 de abril de 2012

Carta breve [II]


Está sentado?
Fumaste teu cigarro? Lembrei me dos Versos Íntimos de Augusto dos Anjos.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro.
Aconselho-o a lê-lo na íntegra.
Devia eu ter memorizado mais a lição que Augusto me passou. Memorizei mesmo era ter de falá-lo com Elisa Lucinda e nunca satisfazer... Lembro da minha imrã, que foi quem me fez procurar o grande poeta, que até então desconhecia - ela tinha em algum lugar do quarto aquele poema do verme-homem, ou algo do tipo.
Lembre-se do escarro. Somos todos capazes de escarrar em bocas que só merecem beijos. E bocas que só pedem beijos também são completamente capazes de escarrar em nossas, facilmente...
Que mania essa nossa de achar coisas perfeitas nesse mundo imporfeito né? Porquê não podemos nos dar por satisfeitos com a idéia de inconclusão, impermanência do mundo?! Isso é coisa do capital, ou coisa humana, transversal ou paralela ao capital?
Procuramos sempre o par perfeito, corpo perfeito, saúde perfeita, gente, coisa, idéia... Tudo perfeito. Que é perfeito?
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Fernando Pessoa também deu ótimos conselhos.
Também guardei menos dos conselhos do que das injúrias e pirraças com ele - até parece que éramos íntimos, desse jeito. Não éramos, óbvio.
Era íntima de tuas palavras, de nossas idéias, quem sabe... Quantas cartas de despedida têm poesias acopladas? Sinto que devo colocar uma página final de referências bibliográficas.

(...)

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