Hoje é o último dia do mundo.
Logo que acordei, soube... Eu me desesperei, quis ligar para todos e dizer que os amava.
Dizer que deviam fazer do último dia de suas vidas, um dia memorável.
Quis que fosse alguma data mais especial, quem sabe o dia dos namorados, um aniversário, um dia de namoro, o dia da paz, do mecânico, ou do amigo. Mesmo querendo, o último dia ainda seria o último dia.
Mesmo querendo, o último dia teria esse gosto de inacabado, sem importância, comum.
Ninguém quis acreditar em mim. Minha mãe disse que eu estava louco. Meu vizinho me mandou ir dormir, e quando fui às ruas, jogaram moedas em mim.
Mesmo louco, não me foi ofertada ajuda. A única mão que se estendeu, foi para apontar o dedo em minha direção. No último dia do mundo, eu pensei que as memórias deveriam ser de felicidade e esperança.
Tudo o que recebi foi amargura.
O último dia do mundo passa rápido, como se o sol não soubesse que deveria brilhar mais, nem o vento, que deveria cantar mais.
Parece mesmo que querem que esse dia acabe logo.
Hoje é o último dia do mundo. Estou aqui, escrevendo.
Estou aqui, escrevendo, pois vejo o concreto derretendo, o metal desaparecendo, o ar ficando pesado. Vejo o último suspiro de não-vida, e a vida não dá importância.
A vida cospe, xinga, e atira moedas em mim.
A vida é amarga, e vai acabar assim: Amarga.
Eu me conformei com os zunidos das coisas se despedindo, a visão se apagando e o fim do dia.
Me conformei com os olhares desaprovadores, quando tentei alertá-los da importância do final feliz. De seus finais felizes. Me conformei a ponto de, ao pôr-do-sol, apenas olhar enojado para os corpos apressados e faces desconfortáveis passando por mim.
Eu, que esperei mágica, brilho, cores e sorrisos, que esperei satisfação, não conseguia nem sentar e apreciar o arco-íris tonal do dia acabando, encostando na margem também tonal do mar (que parecia ser o único a se importar, pois agitava-se, subia, estourava e voltava ganhando mais força para o próximo ataque). Eu, que sonhei com o marasmo e nostalgia, acabei aqui, sentada em frente à tela do computador, encarando o branco que imita porcamente a página do caderno, esperando tingimento.
Hoje é o último dia do mundo. Esta é a última hora. Este é o último suspiro.
Quem dirá o Fim?
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