terça-feira, 26 de março de 2013

"A identidade é um algo de muito complexo"

Quando eu me propus a discutir gênero, sexualidade e identidade, no Encontro Nacional Estudantil da Diversidade Sexual (na UFRRJ, em novembro), eu não esperava que aquilo fosse me afetar como me afetou.
A gente percebe o quanto vai criando identidades, laços de identificação com o(s) outro(s), e nem percebe a criatura de Frankenstein que vamos nos tornando. Que emprestamos partes de todos esses outros corpos e todas estas outras marcas exteriores à nós e vamos encaixando nas nossas lacunas. Quase como aquele joguinho de lógica para infantos: um buraco quadrado, outro redondo e outro em estrela - parece quase irresistível forçar o quadrado no redondo para dizer que se encaixam e compõem os diferentes também.
A festa do trocado desencadeou uma suposta crise em mim. Do quê eu me travisto?
Porquê estávamos a conceber, a bipolaridade homem/mulher? Ou era apenas eu que precisei colocar esta barra para eu saber o que eu estava, necessariamente, trocando?
Sei que levei para o Encontro: Calças largas, camiseta comprida sem floreios e tênis all star. Uma cuequinha boxer.
Peraí! Aquilo não sou eu?! Meu lugar-comum? Troquei: Peguei minha saia tipo tubo, arranjei uma blusa rosa com detalhes em flor, uma sandália rasteira de tirinha, stras e tudo o mais. Alisei e enrolei meu cabelo. Prendi em cascata (tudo isso, devo marcar, através de mãos e ajuda alheia). Peguei maquiagem e fui ao espelho me maquiar.
Peraí! Aquilo não soou eu?! Meu lugar-também-comum?
Caí em prantos.

Posso dizer: A experiência mais emocional que tive em muito tempo. em Argyréia. Chorei e sorri e me irritei. Foi como aquelas vezes que a gente precisa fazer reflexão, trabalho conosco mesmos. As sementes me ajudaram a transpôr os escudos defensivos e transcendi um pouco.
A festa foi uma droga. Olhei ao redor tanto mais gente com cara de desconforto. Um colega sendo abusado porque estava de saias e "era gostoso"... Fui para me ver naquilo tudo e não quebrar o ciclo. Precisava.
Fui dormir, escrevi:

Sentimento de ter pego a buceta e aberto-a para Além (fora) do meu corpo. Ter me coberto do meu útero.
Não sei se me vesti ou me travesti. Se deveria ter motado ou desmontado.

O que me era oposto, ou e e o que era fetiche.
Tantas vezes me monto, assim. Me encontro ou me disfarço?

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