quarta-feira, 2 de março de 2011

Viva La Revolución - Parece, mas é muito mais que um conto.

"Beije minha mãe por mim, e diga-lhe que seu filho morreu como um herói", disse meu amigo Ahmed, 26, para a primeira pessoa que correu para seu lado, depois de levar um tiro em uma rua de Tripoli.

Dois dias depois, meu amigo Ahmed morreu no hospital. Assim, desse jeito.

Aquele garoto alto, bonito, engraçado e intelectual se fora. Não mais ele atenderá as minhas ligações. O tempo congelará em sua conta do Facebook para sempre.

Uma hora depois de ferido, eu liguei para Ahmed. Sua voz me soava ótima. Ele me contou que estava en Green Square no coração de Tripoli, e que estávamos livres. Então a ligação ruim piorando significava que eu não poderia falar com ele novamente por mais dois dias.

Foi então que liguei para seu melhor amigo, quem me deu a notícia devastadora. Eles estavam prestes a enterrá-lo, ele me disse. Eu corri para o cemitério, e cheguei logo após o enterro. Eu encontrei alguns de seus amigos. Eles apontaram para o ponto no chão dizendo-me que era ali onde o corpo de Ahmed estava. Nós abraçamos uns aos outros e choramos demais.

Esse é o tipo de história que se vê em Tripoli estes dias. Centenas delas, talvez até milhares. O tipo de histórias que você nunca imaginaria logo em sua porta.

Como quando você ouve que um bebê de seis meses fora assassinado, você simplesmente espera com todo o seu coração que os discursos de Saif ai-Islam Gaddafi dizendo que há pouca e rara violência aqui e que aquele al-Jazeera fabricou esta história, sejam verdade. Você espera que aquela criança esta agora mesmo dormindo tranqüilamente nos braços de sua mãe. Como quando você ouve que alguém de Tajura com uma bala na cabeça por dois dias antes de morrer, deixando para trás uma inconsolável mulher e filho. Você tem rezado a Deus que seu pai está agora brincando com seu filho. Mas as fotos, o vídeo mostra-lhe a dura verdade. Os gritos que não precisam de tradução: Amados sendo devastados pela morte. Todos os humanos entendem aquele grito.

Esta tem sido a vida de Tripoli há algum tempo. É por isso que a cidade está sendo chamada de "Cidade dos Fantasmas" por seus habitantes, que se desesperam ao verem protestantes fugirem aos ataques da polícia. A cidade sofre um revés, com uma vasta maioria de lojas, escolas e universidades de portas fechadas. Apenas algumas lojas vendendo suprimentos básicos resistem abertas, e até essas por algumas horas a cada dia.

Mas apesar desse quando negro de Tripoli, as pessoas têm grandes esperanças e fé que estamos testemunhando os últimos momentos do regime de Gaddafi. Este homem não mais governa Libya; ele é meramente um homem com uma arma apontada para o povo.

Seus dois discursos, e de seu filho antes disso, não passavam de ameaças - todos eles saíram pela culatra em favor da revolução Líbia. Tribos libias do leste ao oeste se mostraram para assegurar a unidade nacional.

Além, seu discurso não é melhor. Gaddafi queria assustar o mundo ocidental com a suposta ameaça de um emirado Islâmico. A comunidade internacional respondeu-lhe impedindo exílio no estrangeiro, congelando seus bens e levando os crimes de seu regime para o Tribunal Internacional de Justiça com quase unanimidade internacional sem precedentes.

Todos os Líbios, até a minoria pró-Gaddafi, acreditam que é apenas uma questão de tempo antes da Libya recuperar sua liberdade. Mas a assustadora pergunta se mantém: Quantos mártires cairão antes que Gaddafi caia? Quantas almas ele tirará antes que a maldição seja quebrada?

Este final feliz, entretanto, está casado com um medo partilhado por todos os Líbios; que haverá uma possível intervenção ocidental para acabar com a crise.

Não me entendam mal. Eu, como a maioria dos Líbios, acredito que impor uma zona de exclusão aérea, seria uma boa ação contra o regime em vários níveis; cortaria pelas raizes o percurso dos comboios mercenários trazidos da África, preveniria Gaddafi de acessar dinheiro e outros bens, e mais importante faria o regime parar de bombear provas apontadas por muitas tesrtemunhas oculares, inclusive arsenais de armas químicas; algo que liberaria uma inimaginável catástrofe, sem mencionar que seus aviões possam realmente carregar tais armas.

De qualquer forma, uma coisa parece ter unido os Líbios de todos os tipos; qualquer intervenção militar nos solo por qualquer força estrangeira será conhecida - como Mustafa Abud Al Jeleil, o ex-ministro da justiça e chefe do governo interino agora na oposição, disse - como guerras muito mais duros que os próprios mercenários desencadearam.

Também não sou a favor da possibilidade de um limitado ataque aéreo para alvos específicos. Esta é uma revolução totalmente popular, o combustível para ela foi o sangue do povo Líbio. Líbios lutaram sozinhos quando países ocidentais estavam ocupandos ignorando sua revolução no começo, tementes por seus interesses na Libya. É por isso que eu gostaria que a revolução fosse acabada por aqueles que a começaram: o povo de Libya.

Enquanto os pedidos de intervenção estrangeira crescem, eu gostaria de mandar uma mensagem para os líderes do ocidente: Obama, Cameros, Sarkozy. Esta é uma oportunidade sem igual que caíra em seus colos, é uma chance para que vocês melhores sua imagem sobre os olhos dos Árabes e Muslims. Não estraguem tudo. Todos os seus programas anteriores para trazer o oriente e o ocidente próximos falharam, e alguns deles tornaram as coisas ainda piores. Não comecem algo que não podem acabar, não transformem uma revolução pura do povo em alguma maldição que reinará para sempre. Não desperdicem o sangue que meu amigo Ahmed derramou por mim.

Dexem-nos apenas viver como vizinhos no mesmo planeta. Quem sabe, talvez eu como seu vizinho possa um dia aparecer à sua porta para apertar sua mão alegremente.

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Este artigo é de autoria de Muhammad min Libya, e foi livremente traduzido por mim, Flavia Lopes, devido a insatisfação para com a tradução enviada ao grupo de discussões da Unifesp Guarulhos.
Da página: http://www.guardian.co.uk/commentisfree/cifamerica/2011/mar/01/libya-revolution-no-fly-zone

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