sábado, 10 de novembro de 2012

Do poder e posse

O que é meu, o que é teu, o que é nosso, e o que não pertence a nada.
Como posso deixar ser, ou restringir? Como posso dominar, ou libertar?
Se não pode parar em minhas mãos, mas sim escorrer, livre e efêmero como é?! Como posso fechar entre os dedos, feito cárcere, o que está planando, ou transitando, livre, sem poder (antifucaultianamente, há de se destacar), sem posse e sem domínio?!


O que não é meu, talvez indique, muito pelo contrário, que também não pode ser teu nem de qualquer outro alguém.
O que não pode ser dominado, não pode ser possuído. Mas parece que mesmo assim o tentamos, insistentemente.
Assustadamente. Assustada mente que quer prender para cultivar. Cercar com arame e algema, corrente e grade de ferro, intrespassável, dado o medo da simples, simplíssima ideia de que, o que não satisfaz é descartável.
O que não é meu, eu quero guardar dentro da gaiola qual só possuo a chave pois não quero da o poder de si mesmo (a coisa qual prendi por medo de não satisfazer).

E as coisas não estão assim, em explosões metafóricas se formando e deformando, criando e respondendo à criação e à criatura. Ou estão?

Nos disse Baudrillard, numa teoria poética, numa poesia-do-real:
"[...] esta espiral generativa do poder, que não é mais uma arquitetura despótica, mas um encademaneto em abismo, uma voluta e uma estrofe sem origem (nem catástrofe), de extensão cada vez mais vasta e rigorosa; por outro lado, esta fluidez intersticial do poder q impregna todo o sistema poroso do socal, do mental e dos corpos, esta modulação infinitesimal das tecnologias do poder (onde relações de forma e sedução estão indissoluvelmente misturadas) - tudo isto se lê diretamente no discurso de Foucault (que é também um discurso de poder); ele escorre, penetra e satura todo o espaço que abre, os menores qualificativos vão se imiscuir nos menores interstícios do sentido, as proposições e os capítulos se enrolam em espiral, uma arte magistral do descentramento permite que se abram novos espaços (espaços de poder, espaços de discurso) [...].
Enfim, o discurso de Foucault é um espelho dos poderes que ele descreve. Aí está sua força e sedução, não absolutamente no seu 'índice de verdade', pois este é seu leit-motiv: os procedimentos de verdade, mas isto é sem omportância, seu discurso não é mais verdadeiro que qualquer outro - não, é na magia de uma análise que desdobra os meandros sutis do seu objeto, que o descreve com uma exatidão tátil, tática, onde a sedução alimenta a força analítica, onde a própria língua engendra a operação de novos poderes. O mesmo acontece na operação do mito, até mesmo na eficácia simbólica descrita por Lévi-Strauss, e não se trata aqui de um discurso de verdade, mas de um discurso mítico, no sentido forte do termo, e (creio) secretamente sem ilusão sobre o efeito de verdade que ele produz. É, aliás, o que falta aos que, seguindo os passos de Foucault, passam ao lado deste arranjo mítico e se deparam com a verdade, nada mais que a verdade."

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