Toca o interfone. Mãe e filha se entreolham. É noite de sábado, e ambas sabem quem é que chama, lá da rua.
A filha atende.
O porteiro está errado, como sempre. O nome está errado, mas é suficiente para a cabeça fingir que o coração lembra.
O pensamento a rodar e destacar os olhos azuis bordados com fios pretos entrelaçados. Chinelo e roupas largadas. Encontram-se alí dentro e, depois de alguns cigarros fumados como éter de deuses há muito desaparecidos, a coragem de revelar o que vinha pensando desde aquela noite.
Já se faz muitos meses. "Eu já tenho 18 anos!".. Ele se acha muito crescido. Ela o acha muito engraçado.
Às vezes muito chato.
E pessimista. Ele é muito pessimista.
E olha-a com olhos admirados.
E assustados. É noite de sábado, é dezembro. Ele lembrou-se de passar lá para olhá-la com olhos ora admirados ora assustados. Jogam conversa.
A noite fica guardada com segredos revelados, sonhos contados e uma constatação espontânea e assustada. "Sua voz é bonita". Bochechas coradas, olhos assustados e ela fingindo que não ouviu para não encabulá-lo.
Fumou muitos cigarros. Sente a garganta arder. Vontade de se afastar.
"Ah o amor!"... Nada bom.
Um abraço desejoso ao final.
Volte mais vezes.
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