II.
"Conhece-te a ti mesmo, que eu me conheço bem; sou um qualquer vulgar,
bem, às vezes me esqueço".
Tem
um tipo de gente cujo estado permanente é triste. Que pode passar a vida em
desmedidos esforços para afugentar a tristeza. Cantam, dançam, rezam (estes são
muitos), casam (outros tantos. Ainda bem que inventaram o divórcio), cheiram,
etc. Temos uns que fazem tudo, pulando de uma solução instantânea fugaz a
outra. Não é a toa que fulgor e fugaz são tão próximos...
Para
quem gosta de "tipo de gente", eu sou uma dessas. Em dias bons ou
ruins, acendo um cigarro, pouso-o para pegar um café, vejo um bolo e me divido
entre vontades, ligo o som, ouço uma frase que me cativa, elaboro uma ideia,
quero escrevê-la, mas estou fumando um cigarro e segurando um bolo e um
café, e nada disso é tão legal quanto
outra coisa que eu poderia estar e que não estou fazendo agora, como olhar o
céu ou pintar uma musa ou pular do precipício.
Estou
dizendo isso com razão: faz dois meses e alguns dias que viajamos, e o estado
perene não é, exatamente, perene. É com
esforço que consigo parar e apenas sentir-me bem com o mundo. E tantas vezes
pude. E fora delicioso!
Porém,
para ela parece mais difícil. Na verdade, ela faz tudo parecer difícil. E como
isso me irrita. Não porque lhe é difícil, mas porque me fica a impressão que
ela não quer que deixe de ser difícil. Não sei se para permanecer em
sofrimento, teu também estado perene, ou se por não querer se esforçar para que
deixe de ser-lhe difícil.
Ela
me diz que até seus melhores amigos perdem a paciência com ela, dando-lhe
argumentos como "você é muito do seu jeito". Me pergunta o que quer
dizer esse tal jeito, que é tão diferente e irritante. Me passa um tufão de
sugestões à mente. Rapidamente se emaranha ao tentar virar palavras e escapa.
Consegui agarrar uma ou outra coisa, com algum esforço juntei os pedacinhos e
tentei explicar-lhe o que me passa sobre seu jeito.
Ao
longo do dia vou tentando enumerá-los. Um exercício ao mesmo tempo
desagradavelmente sádico e satisfatoriamente amadurecedor para ambas. Para mim,
elaborar os seus monstros terríveis que tanto me atormentam inesperadamente.
Para ela, saber sobre isso que tem e é e que tanto desagrada os que ela
aparentemente não quer desagradar. Percebo que, para ambos os propósitos, o
exercício está ineficiente. Paro, apesar de ter mais alguns exemplos se
mostrando a mim vez ou outra.
Não
os guardo, o que seria um movimento saudável, não fosse o rancor posteriormente
infundado que fica resquicioso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário