VI.
A Máscara no espelho
Enquanto
lavo minha louça suja, penso que há outras louças a serem lavadas, dentro da
pia, desde a última vez que eu lavei a minha louça suja e as outras que lá já
jaziam. Já.
Daí
eu penso se vou lavá-las ou não, além de minha. Penso, novamente, desta vez
sobre a razão de os causadores antecessores desta que se a mim apresenta não
pensarem como eu, quando vão desfazer-se de suas louças.
Daí
penso qual é o problema deles, de não pensarem como eu penso. Sobre as nossas
louças sujas e outras tantas coisas mais.
Só
que daí, não cessando de pensar, outra vez penso, e desta vez eu me calo por
alguns instantes; será se o problema nas pessoas não pensarem como eu não
seria, pensando melhor, um problema meu,
justamente porque eu não penso como elas pensam?
Ao
fim deste vago pensar, acabo a louça suja, minha e de outros, pela
provavelmente septuagésima vez, só hoje.
À
noite, a mesma saga se apresenta e eu, cansada e decidida, me dou ao luxo de
olhar a louça suja por outrem na pia e somente agraciá-com meu prato oleoso no
topo, como a cereja que finaliza a decoração do doce. "Amanhã eu
lavo", penso comigo mesma, cheia de culpa cristã.
Eis
que o dia seguinte chega e a louça, como nada fantástico, da mesma maneira ali
permanece.
Sirvo-me
dum café que está pronto por outras mãos como não ficava fazia muitos dias e
vou bebericá-lo entre tragos ao sol da bela manhã que hoje faz. Eu a vejo em
frente à pia.
Quando
indo lavar minha caneca, vejo, ali, mais cômica do que nunca, a minha cereja de
bolo de ontem! A criatura fez questão de deixar um prato e uma frigideira, como
uma provocação (que deveria ser o quê?! Mortal? Sei lá o que se passa na cabeça
dessa menina, nem quero tentar saber mais). Lavo-os, junto de minha caneca e
outro copo de qualquer coisa e qualquer pessoa, dizendo a mim mesma provocações
desnecessárias que poderia retornar a ela, algo como um entojado "ah! Que
sofreguidão! Minhas mãos estão prestes a cair, deste trabalho!", entre
risadinhas cínicas, numa cumplicidade silenciosa minha comigo mesma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário