quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Morro

Ouve-se o som do carinho do vento nas folhas de bambu logo acima da cabeça. Levanta os olhos, observa, e logo fecha-os. Concentra-se nos sentidos esquecidos. Do mais para o menos.


Ouve barulho de tiros em uma conversa ao fundo. Dois homens sentados a alguns metros descrevem a cena onde são disparados.  A dor no peito da bala ardendo.
Mais a frente, num crescendo melancólico, uma corrente é arrastada vagarosamente, quase que em murmúrio. Unhas tocando o chão dividem o tempo, ritmicamente. Um cão de poucos pêlos e músculos fracos perambula com caminhar sequelado à procura de alimento, sem sucesso.

Terra cái do céu e amontoa-se delicadamente junto à lixo e entulho do lado de uma escada batida de mais terra vermelha e seca. Um homem é visto no topo do céu, agarrado pelo pé no chão também batido de também terra vermelha seca. Carrega ou é carregado por um carrinho-de-mão quase solto, não fossem as mãos calejadas do homem.

Alguns passos para o lado e pode-se sentir as fracas gotas do sereno matinal. Dá o último trago do cigarro e sente os lábios queimarem assim que a brasa atinge um algodão sujo.
Entra de volta na pequena colossal construção que é a casa de um Deus cego.

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