Um aperto forte no peito. Nada de demais, não é como se não
tivesse visto um milhão de vezes na televisão, ou através das bocas e mãos de
apaixonados ou nostálgicos poetizando o banal...
"Ok.
Aperto forte no peito."
Tenta respirar.
Aperta-se mais.
Olha para frente e os olhos ficam embaçados por lágrimas que
não se explicam, necessariamente, pelo que se olha.
Já é comum. Lembra-se de puxar forte o ar pelo nariz, que
encontra dificuldade no bloqueio mental e talvez também físico, para seu
alívio.
Observável o cachorro branco sentado confortável em seu
colo, resistindo à forte pressão dos dedos segurando-o em busca de conforto.
Relaxa os dedos e acaricia parcamente o topo da cabeça do
branco cão que agora a olha com olhos curiosos.
Olha para o lado e não consegue sentir mais nada além do
aperto, da vontade de segurar forte com as mãos o cachorro que senta
confortavelmente em seu corpo que também encontra dificuldade em manter-se
jogado no banco, como há pouco havia se acomodado.
"Não consigo!" - Ao passo que um choro
descontrolado vibra sonoro vindo do estômago, vísceras e cordas vocais.
Ainda racional, o pensamento não permite que o corpo se
solte do cinto que prende, do casaco abotoado, das janelas fechadas e portas
trancadas, assim como responde dizendo quão estúpido seria suplicar que se
corresse até o fim das paredes sufocantes, ou mesmo apertar ela própria o pedal
do acelerador.
Em desespero, ainda olhando para o lado, tentando, com o
nariz relutante, respirar fundo, concentrar-se na sensatez que ainda poderia
restar e dizer-lhe que tudo aqui é irracional, senão burro...
Respirar fundo, concentrar-se, respirar fundo,
concentrar-se.
Ainda olhar para o lado e encontrar outro olhar de forma que o
esforço desabasse e aquela menina assustada que tanto se escondia e era
escondida ao fundo de um corpo supostamente crescido tem sua entrada triunfal
na década dois-ponto.
É saudado o aniversário de vinte anos.
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