segunda-feira, 17 de outubro de 2011

fobo


Um aperto forte no peito. Nada de demais, não é como se não tivesse visto um milhão de vezes na televisão, ou através das bocas e mãos de apaixonados ou nostálgicos poetizando o banal...

"Ok.
Aperto forte no peito."


Tenta respirar.
Aperta-se mais.

Olha para frente e os olhos ficam embaçados por lágrimas que não se explicam, necessariamente, pelo que se olha.
Já é comum. Lembra-se de puxar forte o ar pelo nariz, que encontra dificuldade no bloqueio mental e talvez também físico, para seu alívio.

Observável o cachorro branco sentado confortável em seu colo, resistindo à forte pressão dos dedos segurando-o em busca de conforto.
Relaxa os dedos e acaricia parcamente o topo da cabeça do branco cão que agora a olha com olhos curiosos.

Olha para o lado e não consegue sentir mais nada além do aperto, da vontade de segurar forte com as mãos o cachorro que senta confortavelmente em seu corpo que também encontra dificuldade em manter-se jogado no banco, como há pouco havia se acomodado.
"Não consigo!" - Ao passo que um choro descontrolado vibra sonoro vindo do estômago, vísceras e cordas vocais.

Ainda racional, o pensamento não permite que o corpo se solte do cinto que prende, do casaco abotoado, das janelas fechadas e portas trancadas, assim como responde dizendo quão estúpido seria suplicar que se corresse até o fim das paredes sufocantes, ou mesmo apertar ela própria o pedal do acelerador.
Em desespero, ainda olhando para o lado, tentando, com o nariz relutante, respirar fundo, concentrar-se na sensatez que ainda poderia restar e dizer-lhe que tudo aqui é irracional, senão burro...
Respirar fundo, concentrar-se, respirar fundo, concentrar-se.
Ainda olhar para o lado e encontrar outro olhar de forma que o esforço desabasse e aquela menina assustada que tanto se escondia e era escondida ao fundo de um corpo supostamente crescido tem sua entrada triunfal na década dois-ponto.

É saudado o aniversário de vinte anos.

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