sábado, 30 de junho de 2012

Nós três mais ela. Com nome ruim e tudo

Ela tava sozinha. Sabe, éramos três caras e ela. três caras e ela; tipo dona Flor e seus dois maridos, só que éramos três caras. Cada um na sua, somos três caras amigos. Eu gosto muito dela. Ela sabe disso. Todos nós gostamos muito dela. Cada qual do seu jeito, veja bem! Eu gosto assim, esquisito, recatado, sem palavras bonitas, por mais que eu tente. Já devo até ter feito um poema sobre ela. Claro. mas ele deve estar por aí, escondido ou esquecido. Não deve ser lembrado mesmo... O segundo gosta assim, meio vagabundo; Chama de qualquer porque acha que é assim que ela acha também. Se acha um qualquer. (Se acha uma qualquer.) Não vale nem cinco minutos, já disse ele. Mas não adianta, faz isso, e depois faz showzinho, tipo como quem sente ciúmes; mas pode perguntar que ele nunca vai assumir. O terceiro foi o primeiro dela. Eles se amam... Eu acho isso. Ela diz que não e ele não concorda também. Mas ninguém nega. Acho mesmo é que eles não sabem disso.
Ela diz que é apaixonada por nós três. o que que é isso? O que significa esse "apaixonada pelos três"? Porque pelos três? A gente veio junto, numa caixinha de plástico com etiqueta de preço? Leve três e pague um? Diz que a gente cativa ela cada um de um jeito. Fez até menção à raposa do Pequeno Príncipe.
Pretensiosa!
Eu gosto dela. Já disse. E esta noite eu a vi assim, esquisita. Me conquistou ainda mais.
Sabe, eu piro numas de estética; Me preocupo em falar palavras bonitas. Em escrever correctamente e passar minhas idéias. Mas já disse a chacrete: Eu sou um filósofo! Nada disso importa. E mesmo assim, ela me importa.
Me importa vê-la daquele jeito, quietinha, estranho!, ali ao meu lado, sentada no canal, olhando pro outro lado. De costas pra gente! Pretensiosa!
Eu reparei. Ela sabe que reparamos. O segundo parafraseou-a, disse discretamente "spit your game talk shit", porque ela pedia "someone to talk shit". Engraçado. Ninguém disse nada cara-a-cara. Eu até tentei. Ela desviou, eu sabia que faria isso. A gente a conhece. Sabemos disso, todos os quatro. Ela quer negar, diz que nem ela se conhece. Mas eu conheço, sei.
Cantou uma musica qualquer com a banda do lado, fez cara feia, nos negou.
Beijo, eu queria. Queria segurá-la, dar beijos, tirar a aflição. E sexo. Sei que ela queria sexo. E sei que os outros dois dariam. Eu não daria. Não quero afogar lamento em gozo. No meu gozo! Pretensiosa! Usar do meu gozo pra afogar as loucuras dela!
Ficou sozinha. Permaneceu. Olhou pros olhos de cada um só uma vez. Depois concentrou-se na calça rasgando, na coceira na mão.
Olhou pra si mesma e lá permaneceu. Dentro daquilo tudo que rolava pra dentro dela.
Desci do carro e ela me abraçou. Não quis.
Sei que esse abraço se foi. Esse e tantos outros. Por quê neguei? Neguei-a!
Nem autêntico, nem original. Mas sincero.
Ela ficou sozinha.

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