É uma festa, e um grupelho juvenil conversa por entre torradas com maionese e goladas de vinho quente com pedaços afogados de maçã. É uma festa, e pode aperceber-se, se prestar alguma atenção, um ou outro momento íntimo e marcante no meio entre uma risada e outra, um fim e outro.
É uma festa, e cá estou, sentada em meio-círculo, rodeada por pessoas entretendo e entrelaçando-se por entre torradas com maionese e gritos de euforia, abafando o som de uma banda com nome de parte de corpo de bicho que sai do aparelho manejado por aquele que possui meu desejo.
Cá estou, tendo meu desejo na posse de outro que não me oferta nada passível de confortar-me deste fato. Sem poder ter nem um pedaço de mim, cá estou, perdendo-me por eiras e beiras, numa festa, observando o semi-círculo que se entrelaça por entre risos e gritos, enquanto o que tem algo de mim permanece com ele, distante, manejando o tocador que reproduz uma banda com nome de parte de corpo de bicho.
Cá estou, em uma festa, numa sala com decoração com propósito estritamente funcional, onde não se vê sorrisos alheios estampados em fotografias envoltas por molduras baratas de lojas de preço reduzido para bugigangas desnecessárias. E lá está você, também numa festa dentro duma sala, sentado em meio-círculo.
Cá estou eu,
Lá está você.
Nada tenho
de vez em quando tudo
de vez em quando
tu.
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