- Ei, moça.
(mais uma vez, ponto de ônibus, dinheiro, desculpa, cachaça senão pior)
Suspira, se esforça para mudar a face de desgosto e descrença.
- Oi?
Uma formiga sobe pelo seu braço. A moça não consegue parar de encará-la.
A fraca tentativa de esboçar um olhar receptivo se fora. A moça apenas consegue acompanhar lentamente com os olhos aquela vida, em toda sua pequenez, seguir um trajeto aparentemente sem rumo.
- Ei, moça. A vida é triste, sabia?
- Que vida?
(a vida da formiga não poderia ser. algo tão pequeno, sem passado e com um futuro assim, tão frágil que, com um peteleco, se desfaz no ar, não pode se dar o direito de felicidade alguma, para conhecer o que é a tristeza)
A moça descobre que não passa de outra moça, à sua frente. Outra moça, com um mesmo olhar, com uma mesma tentativa de esconder o desgosto e a descrença da face.
Que vida? A vida dela não não poderia ser. Algo tão pequeno, sem passado e com um futuro assim, tão frágil, não pode se dar o direito de felicidade alguma. Quem dera tristeza.
- PÁ! Você morreu.
A moça se lembra do que não há mais gente sã. Aqueles sãos conseguiram se livrar da felicidade, da tristeza, do passado e do futuro com o equivalente a um peteleco.
O ônibus chega. As portas se abrem.
Ouve-se o som de moedas caindo no asfalto coberto de água.
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