Eu visto teu casaco que já não tem mais tanto o teu cheiro, quanto o de cinzeiro velho com o meu próprio. E eu queria uma câmara à vácuo para conservar o resto de você enquanto dorme longe. (Câmara, como você me ajudou a guardar. Câmara, pois é espaço que guarda ar - ou no caso, a falta de -, e não câmera, que captura todo o resto que não é). Visto-o para o cubículo ao qual me aprisiono para fumar um cigarro do lado de fora. Aprisionada para fora, para baforar a desgraçada fumaça que disfarça uma ânsia de boca de uma tal fase oral pouco superada. Um som insuportável de água que, irritantemente, me persegue, agora já não me agrada como antes. Desta vez é de um banho reconfortante para um vizinho qualquer que insiste em se fazer ouvir, quase como um jogar na minha cara a satisfação que não ando conseguindo ter. Perdida nos lugares onde sempre me encontro, desencontrada de mim mesma a não ser pelo corpo que parece inabitado, de olhos fora-de-órbita, sentada no meu cubículo cercado que permite o encontro com a noite que me hoje é negada.
Bato a cinza para fora e ela, desaforada como era de se esperar - como tudo o mais estes tempo - , sobe e se aloja no meu colo e acinzentando fedorenta no teu casaco escuro que supostamente me conforta. Finge ser proteção de qualquer coisa que me aflige. Engano-me de pensar que o que precisa ser protegido está vestido (livre) dele e o que precisa de proteção contra está preso do lado de fora dele.
Eu, que havia fugido de tudo o que causa perturbação pareço agora encontrar-me em busca implacável pelo meu conflito. Perseguindo tudo o que me faz desaguar feito o banho alheio e me perder de mim, como é o próprio estranho que se alivia com esta água desgraçada que não descansa de cair em alto e bom tom.
Então eu encontrei você, é? Encontrei o cheiro que me faz desejar o toque completamente dessexualizado ao qual estive tão desacostumada - o qual rejeitei tanto. Enganei-me ao criar o desgosto desse? Inventei desculpas para que eu não precisasse dele, talvez? Pouco sei, e tanto menos se quero saber. Fico assim desejando teu braço acolhendo toda minha aflição, protegendo feito o casaco que agora esquenta demais meu corpo, mesmo tendo arregaçado as mangas, e afastado as abas dele do meu tórax.
Desejou-me boa noite horas atrás e eu quis que esta viesse com beijo na testa. Certamente teria afastado esta sensação de agora. Teria afastado a vontade de você consequente desta mesma sensação. Mas não.
Desejou-me boa noite horas atrás. Via sms.
Lembro-me a todo o tempo dos versos de Vinícius que regem há tempos essa vida medíocre de ego pouco piedoso e auto-flagelo exagerado:
É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...
Infelizmente, anoiteço com o ombro encostado na ponta do nariz, respirando fundo o algodão que puxa você da tua cama para a minha.
Fecho os olhos no conflito de sentir pena e nojo de mim mesma. Sonho dividida entre o esgoto e teus braços.
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...
Infelizmente, anoiteço com o ombro encostado na ponta do nariz, respirando fundo o algodão que puxa você da tua cama para a minha.
Fecho os olhos no conflito de sentir pena e nojo de mim mesma. Sonho dividida entre o esgoto e teus braços.
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