Ovos de casca amarelada, fétidos, passados, mortos. Assim,
abria a geladeira e lá estavam eles. Por todos os cantos, em todas as gavetas e
prateleiras.
Ovos. Eu, que não gosto de ovos, a não ser quando fritos e
com pão. E muito sal. Eu, que fico com embrulho no estômago com o cheiro de ovo
cru quando sou obrigada a usá-los em alguma receita qualquer de doce gorduroso.
“É pra dar consistência!” Meu pau pra consistência. Ovos fétidos, passados e
mortos pra sua consistência. Aquele cheiro azedo, grosso, aquele fio de baba
que se extende por uma caralhada de distância. Aquela meleca branca que fica
coladinha na gema e você fica penando para tirá-la, pinçando aqui e acolá com
os dedos, e teu irmão mais velho deve ter brincado na infância ao te dizer que
aquilo era o sêmen do galo. Ergh!
Analogias não faltam pra explicar. Sonhei com ovos podres!
Uma ou outra delas me assusta, confesso. Pergunto-me se ao sonhar isso quero
dizer que estou eu assim como o ovo – uma vida não germinada, uma
potencialidade não desenvolvida, congelada, interrompida e, não só! Afinal, é
um ovo es-tra-ga-do... São ovos estragados; morte suja e invalidez. Fim de
qualquer nada que já não era mais. Horroroso, fétido, asqueroso fim de coisa
que não podia mais crescer, se desenvolver, viver.
Ovos. Eu, que não gosto de ovos. Por toda a parte, a todo o
tempo. Ovos de casca amarelada, fétidos, passados, mortos.
2 comentários:
A gente tá precisando pegar um sol, tomar um goró e quiçá chorar um pouquinho. E eu falei no plural pra não me sentir sozinha, desculpa se não for bem assim.
Sim. Assim que você quiser, e meu dinheiro der. rsrs
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