Eu, que não estive em sua cama. Que não passei a mão por entre seus finos fios de cabelo, e enrolei-os de volta nos meus dedos, como que não pudesse nem mesmo deixar marca nas madeixas loiras encaracoladas.
Como o que não existe poderia emaranhar sem cabelo? Não poderia. Eu não posso. Eu, que não sentei em seu sofá, ao seu lado, e ouvi-o falar de suas preocupações. Que não me mantive a distância segura enquanto o ouvia, e tive minhas pernas puxadas por cima de seu colo. Eu, que não cumplicizei-me de tuas recaídas. De teus escorregões.
Como o que não existe parece tão real assim?
Eu, que não existo, quero saber. Por que parecemos reais quando nus, torpidamente nos entrelaçando, suando, soando em sussurros e gemidos ao pé dos ouvidos um do outro, se tanto me pede para acreditar que nunca existimos?
Quer dizer... Quando comigo você também não existe? Ou este é apenas um mérito meu?
Eu, que me sinto menos eu, no momento em que as palavras, em tom de pedido, sáem da sua boca, assim: "Não conta pra ninguém, tá bom?!".
Eu, que me invisibilito.
3 comentários:
Te entendo. Mas a pergunta que fica é: eu, quando é que vou ter coragem de realmente me mostrar?
Mas até quando depende realmente de uma suposta máscara de forte e independente que usamos, ou depende da imagem que se criou de uma pessoa que só existe entro de quatro paredes?
É como uma grande amiga me diz sempre: as coisas tomam os rumos que a gente toma. Traduzindo em miúdos, eu vou continuar me invisibilizando enquanto assim quiser ou aceitar. Enjoy or quit.
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